O Santo Condestável - uma Obra de Maria Sobral Mendonça


A canonização de São Nuno de Santa Maria

O processo de canonização de Nun’Álvares (1360-1431) demorou séculos e encontrou inúmeras dificuldades ao longo do tempo.

Frei Nuno de Santa Maria morreu na sua cela do Convento do Carmo, provavelmente a 1 de Abril de 1431. A sua sepultura na capela-mor do mosteiro foi logo venerada pelos nobres e povo de Lisboa, que o apelidou de Santo Condestável.

A piedade popular ao Conde Santo manteve-se até ao século XVI, sendo restringido durante o domínio filipino.

Após a restauração, houve duas súplicas ao Papa pela beatificação de Nun’Álvares respectivamente por D. João IV em 1641 e D. Pedro II em 1674, ambas sem sucesso, estando a causa praticamente suspensa durante o reinado de D. João V.

O processo ressurgiu em meados do século XIX e a partir de 1894 desenvolveram-se os trâmites legais para a beatificação.

No dia 23 de Janeiro de 1918, o Papa Bento XV (1854-1922) pelo decreto Clementissimus Deus, consagrou a beatificação, no contexto difícil da Primeira Guerra Mundial.

No princípio do século XXI o Postulador Geral da Ordem Carmelita, Padre Felipe M. Amenós y Bonet, promoveu a reabertura da causa, tendo seguido para Roma em 2003 o processo diocesano correspondente.

Foi canonizado em Roma, no dia 26 de Abril de 2009, pelo Papa Bento XVI

São Nuno de Santa Maria, com vida decorrida entre a segunda metade do século XIV e primeira do século XV, viu, segundo palavras de Bento XVI, Portugal consolidar a sua independência de Castela e estender-se depois pelos Oceanos  –  não sem um desígnio particular de Deus  –  abrindo novas rotas que haviam de propiciar a chegada do Evangelho de Cristo até aos confins da terra. (1)

 

D. Nuno Álvares Pereira e Bento XVI

Trata-se de uma pintura em acrílico sobre tela (130 X 97cm), com assinatura de Maria Sobral Mendonça (n. 1963).

Segundo a memória descritiva, a pintura apresenta um fundo azul, representando o firmamento, envolvendo as figuras de Bento XVI (1927-2022) e de D. Nuno Álvares Pereira (1360-1431).

À esquerda, o Papa Bento XVI surge envolto num manto carmim, símbolo do fogo da caridade inflamada no coração do Sumo Pontífice, com a cruz ao peito e, junto aos pés, a Bíblia sobre a qual repousam as armas do Santo Condestável.

Ao centro, a espada de D. Nuno divide o quadro e à direita, o Santo é representado de joelhos, com as mãos entrelaçadas por um terço, sobre o punho da espada.

Nas vestes carmim do Papa e nas tonalidades azuis e prata de D. Nuno surgem outros personagens que evocam a memória do herói português — defensor da Justiça, da Paz e das causas nobres.

Maria Sobral Mendonça representou o Santo Condestável como guerreiro, um dos tipos de figurações mais frequentes do grande herói nacional – a outra é a representação como Carmelita.

A representação de Nun’Álvares como defensor do Reino é significativa, tendo em conta estar o país sob ameaça da perda de autonomia. Para ele, cavaleiro cristão, a causa religiosa concretizava-se na defesa da independência portuguesa, tal como a podia já considerar um jovem de vinte anos dos finais da Idade Média (2).

A pintura foi realizada no âmbito das comemorações pela canonização de São Nuno de Santa Maria. Foi oferecida ao Papa Bento XVI em 2010, na sua visita oficial a Portugal, como sinal de agradecimento pela canonização. Na cerimónia de entrega esteve presente a autora – Maria Sobral Mendonça – em representação da cultura portuguesa, e a presidente da APCD (Associação Portuguesa de Cultura e Desenvolvimento) - Maria Benedita Santiago Neves (1963-2022). O quadro integra actualmente o acervo do Museu do Vaticano.

 

A autora Maria Sobral Mendonça

Maria Sobral Mendonça é uma artista portuguesa, natural de Lisboa. A sua obra explora a cor, o gesto e a espiritualidade contemporânea, unindo matéria e emoção.

Destaca-se em Arte Sacra, com pinturas e obras em espaços de culto, incluindo a Igreja de Nossa Senhora da Conceição de Outurela (Carnaxide), a Diocese de Setúbal, o Museu PIO XII em Braga e o Museu do Vaticano.

A sua obra está patente em numerosas instituições oficiais e particulares, nomeadamente Ministérios e Câmaras Municipais, em várias cidades portuguesas.

Tem desenvolvido também peças de autor e edições de série limitada em cerâmica, porcelana, seda e objetos de design, bem como obras de carácter histórico como “Lusitânia Pátria Minha” (Palácio da Independência) e “Cerco de Lisboa, 1147” (Pastelaria Bernard). Em 1999, recebeu o Certificat de Distinction da Associação Internacional de Artes Plásticas, da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura / UNESCO. Foi distinguida na I Bienal Internacional de Arte Sacra de Braga (2018), na Bienal de Valência Ciutat Vella Oberta (2019) e na V Bienal Internacional de Valência (2021), estando representada em colecções privadas em Portugal e no estrangeiro.

Actualmente desenvolve projectos de pintura, experimentação cromática e design aplicado, no seu estúdio no Chiado (Lisboa), mantendo uma ligação activa entre arte contemporânea, tradição e património.

 

  1. BENTO XVI, Homilia da Missa de Canonização na Praça de São Pedro, 26 de Abril de 2009.
  2. CLEMENTE, Manuel, Nuno Álvares Pereira: um Santo a reconhecer, Colóquio “D. Nuno Álvares Pereira. O Homem e a Memória”, 2023.

 

Fotos amavelmente cedidas pela pintora Maria Sobral Mendonça

 

REFERÊNCIAS

  • LEAL, Ernesto Castro, Nun’Álvares: Símbolo e Mito nos Séculos XIX e XX, Lusitania Sacra, 2ª Série, 12, 2000.
  • MOITEIRO, Gilberto Coralejo, Sobre Nun’Álvares Pereira…Notas Historiográficas, Lusitania Sacra, 22, 2010.


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