A Gafaria de São Lázaro de Cacilhas, Almada
As leprosarias surgiram na Idade Média, sendo instituições que acolhiam os gafos – doentes que padeciam de gafa ou lepra, também chamada mal de São Lázaro. A lepra foi doença crónica frequente desde tempos imemoriais.
As leprosarias, tal como as albergarias e hospitais, nasceram e desenvolveram-se por impulso da Igreja e posteriormente com o apoio da Coroa e de particulares. Em Portugal encontravam-se gafarias nas principais cidades – Lisboa, Coimbra, Santarém.
São Lázaro começou a ser venerado desde o início do cristianismo. Ao longo da Idade Média foi invocado como protector dos leprosos e das casas que se dedicavam ao cuidado destes doentes - os lazaretos. A iconografia representa-o como o pobre Lázaro de uma das parábolas de Jesus, coberto de andrajos e descrito na literatura cristã como leproso.
A Gafaria de São Lázaro de Cacilhas foi fundada possivelmente no século XII, associada à Albergaria dos Palmeiros. Acolhia os leprosos – os gafos - de uma vasta região ao Sul do Tejo, sendo provavelmente a mais antiga instituição de assistência de Almada de que há notícia. Situava-se, segundo se supõe, no pontal de Cacilhas, um pouco acima da Albergaria dos Palmeiros, separada da povoação como era norma, mas não estando completamente isolada.
A gafaria compunha-se de três casas térreas, rodeadas por um terreno e cerradas como convinha a este tipo de estabelecimentos. Tinha num dos extremos a ermida de São Lázaro.
Em 1504 foi feito o compromisso da Gafaria de São Lázaro, inspirado no texto da Casa de São Lázaro de Lisboa, por indicação da duquesa D. Beatriz (1430-1506), donatária de Almada, e segundo mandado delRey nosso Senhor, considerando que a gafaria nam tinha tonbo algũu de sua erança e por mingua della muyta da dita erança andaua emalheada e por mal cabo a qual se nam podia cobrar nem auer (1).
O número de doentes foi sempre pequeno e, à medida que a moléstia retrocedia, o número de leprosos foi reduzindo. De acordo com as indagações de 1504, se achou que os mais lazaros que em a dita gafaria estiveram em um tempo foram quatro lázaros (2).
A administração dos bens estava entregue a um encarregado especialmente nomeado para o efeito – o mamposteiro. Entre os mamposteiros de Cacilhas contam-se figuras notáveis como D. João de Abranches (1433-1501), D. João de Portugal († 1578) e Fernão Mendes Pinto († 1583).
Em 1569, por provisão de D. Sebastião (1554-1578), a administração de São Lázaro, entretanto convertida parcialmente em Hospital, foi confiada à Misericórdia de Almada - fundada em 1555. O terramoto de 1755, provavelmente arrasou também a antiga Gafaria de São Lázaro.
Permanecem em Cacilhas referências a São Lázaro: além do Centro de São Lázaro pertencente à Santa Casa da Misericórdia de Almada, é venerado de modo particular na igreja de Cacilhas, herdeira da antiga ermida de São Lázaro, onde se encontra representado no retábulo-mor.
- MARTINS, Maria Odete Sequeira, Poder e Sociedade: a Duquesa de Beja, Tese de doutoramento, História (História Medieval), Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras, Lisboa, 2012, p. 102.
- NÓVOA, Rita Luís Sampaio da, A Casa de São Lázaro de Lisboa, Dissertação de Mestrado em História Medieval, Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 2010, p. 68.
REFERÊNCIAS
- NÓVOA, Rita Luís Sampaio da, A Casa de São Lázaro de Lisboa, Dissertação de Mestrado em História Medieval, Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 2010.
- RAPOSO, Abrantes, APARÍCIO, Victor, Os Palmeiros e os Gafos de Cacilhas, Junta de Freguesia de Cacilhas, 1989.
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