Estátua de Pedro Álvares Cabral, Belmonte


Estátua

Pedro Álvares Cabral (c.1468 – c. 1520), descobridor do Brasil, está homenageado em Belmonte, a sua terra natal, nomeadamente por meio de um monumento escultórico, na zona nova da povoação.

O monumento encontra-se num amplo largo, antecedido de calçada portuguesa com a representação de uma rosa-dos-ventos, uma caravela e um astrolábio – alusivos ao grande navegador. À entrada do largo, do lado direito encontra-se um padrão com as armas portuguesas e, do lado esquerdo, uma lápide com o célebre excerto de Pero Vaz de Caminha: 22 DE ABRIL DE 1500 “NESTE DIA, A HORAS DE VÉSPERA, HOUVEMOS VISTA DE TERRA!...A TERRA DE VERA CRUZ”.

Pedro Álvares Cabral, de face voltada para a parte da cidade que o viu nascer, está representado com a cruz da Ordem de Cristo, um largo manto, cinturão e botas. Segura na mão direita um astrolábio e na mão esquerda a Cruz e a espada – alusivo à sua dupla condição de navegador e capitão. Na cruz está inscrito TERRA DA VERA CRUZ 22 ABRIL 1500. Está de pé sobre um pedestal revestido de lajes de granito, com inscrição do nome do descobridor PEDRO ÁLVARES CABRAL em letras de cobre na parte da frente e, na parte traseira, OFERTA DO M.O.P. (Ministério das Obras Públicas) 1963.

A estátua, em bronze, foi concebida por Álvaro de Brée (1906-1962) em 1961. Após o falecimento do autor, foi oferecida pelo Ministério das Obras Públicas à cidade de Belmonte e inaugurada a 12 de Janeiro de 1963, pelo antigo presidente do Brasil Juscelino Kubitschek de Oliveira (1902-1976). Na cerimónia esteve também presente o Conde de Belmonte como representante da família Cabral.

Existem outras estátuas de Pedro Álvares Cabral: em Santarém, junto à igreja da Graça, onde se encontra o seu túmulo; em Lisboa, na grande rotunda da Estrela; e também no Brasil: Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Seguro.

 

Pedro Álvares Cabral e o Brasil

Pedro Álvares Cabral nasceu em Belmonte (c.1468), filho segundo de Fernão Cabral (c. 1427 - c. 1492), primeiro alcaide-mor do Castelo de Belmonte, e D. Isabel de Gouveia (c. 1433-c. 1483).

Em 1484, constava na lista de fidalgos da Casa de D. João II, e era Cavaleiro da Ordem de Cristo. Terá participado nas campanhas no Norte de África, nomeadamente na Graciosa. Com D. Manuel I (1469-1521) foi agraciado com o título de Fidalgo do Conselho do Rei e Cavaleiro da Ordem de Cristo.

Em 1500, foi nomeado capitão-mor da expedição à Índia, por D. Manuel I, após a viagem marítima de Vasco da Gama. Na carta de nomeação, datada de 5 de Fevereiro desse ano, a missão confiada pelo rei incluía o estabelecimento dos portugueses no comércio das especiarias e outros produtos preciosos na Índia, a criação de feitorias e assegurar relações estáveis com as povoações da África oriental.

A frota, constituída por treze navios, levantou âncora de Lisboa, no dia 9 de Março de 1500. A 22 de Março, avistaram a ilha de São Nicolau do arquipélago de Cabo Verde e, depois de passarem o equador, rumaram para ocidente, como fizera a rota de Vasco da Gama, de modo a encontrar ventos favoráveis.

A 22 de Abril, Quarta-feira d'oitavas de Páscoa, (…) E neste dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra, isto é, primeiramente d'um grande monte, mui alto e redondo, e d'outras serras mais baixas a sul dele e de terra chã com grandes arvoredos, ao qual monte alto o capitão pôs nome o Monte Pascoal e à terra a Terra de Vera Cruz (1).

A 23 de Abril desembarcaram no local depois denominado Porto Seguro, travando os primeiros contactos com os ameríndios, descritos sugestivamente por Pero Vaz de Caminha (1450-1500).

No dia 26 de Abril, (…) domingo de Pascoela, pela manhã, determinou o capitão d'ir ouvir missa e pregação naquele ilhéu. (…). A Missa foi celebrada solenemente por Frei Henrique, tendo o capitão mandado armar um esperável e dentro nele alevantar altar muito bem corregido e ali com todos nós outros fez dizer missa, a qual disse o padre frei Anrique em voz entoada. (…) Ali era com o capitão a bandeira de Cristo, com que saiu de Belém, a qual esteve sempre alta, à parte do Evangelho. (…) (1).

E a 1 de Maio, foi celebrada a segunda Missa, provavelmente a celebração antecipada da Invenção da Santa Cruz, festa celebrada a 3 de Maio no antigo calendário litúrgico. Foi erguida uma grande Cruz de madeira junto ao altar:  E hoje, que é sexta-feira, primeiro dia de Maio, pela manhã, saímos em terra com nossa bandeira e fomos desembarcar acima do rio, contra o sul onde nos pareceu que seria melhor chantar a cruz para ser melhor vista. (…) Chantada a cruz com as armas e divisa de Vossa Alteza, que lhe primeiro pregaram, armaram altar ao pé dela (1).

A 2 de Maio um navio retornou a Portugal com a notícia da descoberta. A restante rota seguiu para a Índia.

A 24 de Dezembro de 1500, a armada de Pedro Álvares Cabral atracou em Cochim, onde foi fundada a primeira feitoria portuguesa de todo o Oriente.

Após uma curta estadia atribulada na região do Malabar, Pedro Álvares Cabral regressou a Portugal. Chegou a Lisboa no dia 21 de Julho de 1501, com seis navios, remanescentes da grande frota, carregados de especiarias.

Convidado a comandar a terceira expedição ao oriente, no entanto desentendeu-se com o rei. Afastou-se da corte, retirando-se para a sua propriedade em Santarém, segunda cidade do Reino - onde actualmente se encontra a Casa do Brasil.

Em 1503, casou-se com D. Isabel de Castro (1526), filha de D. Fernando de Noronha e D. Constança de Castro, família ligada a Santarém, e onde faleceu cerca de 1520, relativamente esquecido.

Está sepultado em campa rasa na igreja da Graça de Santarém, onde sua mulher, descendente de D. João Afonso Telo de Meneses (1381), conseguiu uma capela própria para sepultura do casal.

Em 1900, por ocasião dos 400 anos da descoberta do Brasil, foi inaugurado no Rio de janeiro, um monumento de homenagem ao grande navegador. E, em 2000, nas comemorações dos 500 anos, foi também inaugurada a Casa do Brasil na antiga residência de Pedro Álvares Cabral em Santarém.

 

Belmonte

A vila de Belmonte, na Beira Baixa, tem registo muito antigo de presença humana. Terá surgido o primitivo núcleo populacional no local onde se encontra o Castelo de Belmonte. Data de 1199 o primeiro foral da vila, dado por D. Sancho I.

Em 1397 / 1398 Luís Álvares Cabral foi nomeado alcaide do castelo. D. Afonso V, em 1466, concedeu a título hereditário, a alcaidaria-mor do castelo a Fernando Cabral I – neto do primeiro alcaide e pai de Pedro Álvares Cabral - juntamente com o senhorio da vila e seu termo. Em 1510, já depois da descoberta do Brasil, D. Manuel I concedeu nova carta de foral.

O título de condes de Belmonte foi instituído em 1805, na pessoa de D. Vasco Manuel Figueiredo Cabral da Câmara, descendente da família Cabral.

Na histórica Vila de Belmonte, são numerosas e variadas as referências ao grande navegador:

O Castelo de Belmonte, onde seus pais viveram e foram sepultados, e onde provavelmente nasceu e cresceu Pedro Álvares Cabral. Construído no século XIII e ampliado ao longo dos tempos, teve um papel crucial na defesa da fronteira. Foi residência da família Cabral durante vários séculos, sendo abandonado nos finais do século XVII, após incêndio. Junto encontra-se uma réplica da Cruz que terá presidido na Missa celebrada dia 1 de maio de 1500, na recém-descoberta Terra de Vera Cruz.

A Igreja de São Tiago, associada intimamente à estirpe da secular família. Na capela anexa, Panteão dos Cabrais, encontra-se o túmulo de Fernão Cabral I e D. Isabel de Gouveia, e uma arca de granito contendo cinzas retiradas do túmulo de Pedro Álvares Cabral na igreja da Graça em Santarém. 

A imagem de Nossa Senhora da Esperança, actualmente na igreja Matriz, que, segundo a tradição, teria acompanhado Pedro Álvares Cabral na viagem de descoberta do Brasil. É invocação de devoção antiga na família Cabral.

O Museu dos Descobrimentos, em homenagem à vida e ao descobridor do Brasil, instalado na antiga residência da família Cabral.

A Estátua de Pedro Álvares Cabral, solenemente inaugurada em 1963.

Belmonte tem o dia 26 de Abril, data da primeira Missa em terras de Vera Cruz, como dia do Concelho. Nesse dia, os festejos incluem a tradicional romagem à estátua do notável descobridor e a secular procissão de Nossa Senhora da Esperança.

 

(1) Carta de Pêro Vaz de Caminha. 1 de Maio de 1500. Portugal, Torre do Tombo, Gavetas, Gav. 15, mç. 8, n.º 2. https://antt.dglab.gov.pt/wp-content/uploads/sites/17/2010/11/Carta-de-Pero-Vaz-de-Caminha-transcricao.pdf (consultado 15 Setembro 2025)

 

REFERÊNCIAS

  • REIS, Jacinto, Invocações de Nossa Senhora em Portugal de Aquém e de Além-Mar e seu Padroado, [S.l., S.n.], (Lisboa, tipografia da União Gráfica) 1967.
  • COSTA, João Paulo Oliveira e (Coord.), Descobridores do Brasil, Exploradores do Atlântico e Construtores do Estado da Índia, Sociedade Histórica da Independência de Portugal, Lisboa, 2000.
  • MARQUES, Manuel, Concelho de Belmonte - Memória e História, Belmonte, Câmara Municipal de Belmonte, 2001.
  • NOGUEIRA, Cristina, Monografia Histórica do Concelho de Belmonte, Belmonte, Câmara Municipal de Belmonte, 2006.

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