A Torre do Observatório Meteorológico de Luanda, Angola


A primeira matriz de Luanda foi construída após a fundação da Vila de São Paulo em 1576, na cidade alta, com amplo horizonte sobre a Baía. Foi dedicada a Nossa Senhora da Conceição, como era habitual na tradição portuguesa: os primeyros conquistadores, para a administraçaõ dos Sacramentos, exercido dos oficios, e culto diuino fundaraõ e erigirão de nouo huã igreja Matrix, dedicada à immaculada conceiçaõ da Virgem Senhora Nossa, que tomaraõ por sua padroeyra, (1A)

Foi uma das duas primeiras paróquias da região, estabelecida em 1590 por Dom Frei Martinho de Ulhoa († 1606) – a outra seria de Nossa Senhora da Vitória de Massangano. A igreja seria ainda muito rudimentar, de acordo com o relato do Padre Bento Ferraz que no tempo que tomou posse della achou que era feita de taipa, de barro e de pillares de madeira e ripa de palma, que hé o com que o gentio cobre suas casas, e de telha van (…) (2)

A igreja servia uma grande comunidade de fiéis. Em 1614, ficou registado o pedido que na Igreja de N. S. da Conceição de Loanda se acrescente hü cura, 4 beneficiados, que siruaõ na cura ás semanas (3), tendo em conta a grande afluência e necessidade. Sendo igreja matriz da cidade, foi aqui baptizada em 1622, a célebre Rainha Ginga (c. 1582 – 1663), acontecimento relevante no contexto da história de Angola.

Em 1626, a igreja era insuficiente para assistir a toda a população, e o desgaste era notório, tendo em conta a numerosa comunidade que a frequentava. O Governador Fernão de Sousa (1624-1630) atestava ao rei em 1627 que a igreja necessitava de todas as coisas indispensáveis ao culto divino; e que estava degradada e feita de taipa, tecto sustentado por simples esteios de pau e cobertura de palha, retábulo muito pequeno e todo quebrado, não havendo um retábulo decente (4), pedindo que se fizesse um edifício como convinha à povoação que tanto tinha crescido.

As obras começaram com o apoio real. Dom Francisco Soveral (c. 1570 – 1642) promoveu os ornamentos da capela-mor, custeou a construção do coro e mandou fazer uma sacristia. Em 1636, há referência às obras a realizar ainda no corpo e na capela-mor. No final da década, a igreja estaria acabada, com a imagem de Nossa Senhora da Conceição, a Padroeira, no retábulo-mor, com a dignidade equivalente a uma matriz e futura sede de bispado.

No relatório da Visita ad sacra limina de 1640, realizado por Dom Francisco do Soveral, referia-se já que nesta celebram-se os ofícios divinos com tamanho cuidado e perfeição como é desejável; possui o seu mestre de capela, que nós sustentamos, e muitos outros cantores, unicamente por causa da celebração solene dos louvores divinos; no coro rezam-se diariamente as horas canónicas e nós sempre [fl. 13v] estamos presente; os paramentos e tudo o mais que cumpre usar-se é de seda e de prata: tudo isto nós mandámos fazer no começo com o nosso próprio dinheiro, pois neste particular havia muita pobreza, mas agora, por divina misericórdia, não sentimos inveja de nenhuma das grandes igrejas da Península Ibérica. Os sacramentos são administrados com diligente cuidado através dos ministros escolhidos para a sua administração (5).

Em Abril de 1641, houve comemorações na igreja pela notícia da restauração da independência em Portugal (a 1 de Dezembro de 1640). Poucos meses depois, em Agosto, a cidade foi tomada pelos holandeses que vandalizaram e profanaram a igreja matriz e os restantes templos da cidade – com excepção da igreja dos jesuítas. Segundo Cardonega, a imagem de Nossa Senhora da Conceição da Matriz foi salva por Beatriz Pais - mulher do Capitão-mor Sebastião Pinheiro - e levada para Massangano, acompanhando a trágica debandada da população, perante a invasão.

Após a recuperação da cidade ao domínio holandês, na igreja matriz, ainda bastante arruinada, foram sepultados, em 22 de Junho de 1650, os restos mortais de Dom Francisco do Soveral, trasladados da igreja de Nossa Senhora da Vitória em Massangano onde tinha falecido em 1642, na sua retirada perante os invasores flamengos, acompanhando o povo. As suas exéquias foram celebradas com grande solenidade, em memória do dedicado MERETÍSSIMO BISPO DESTE REINO, como constava na sepultura.

Em 1663, iniciaram-se as obras de edificação de uma nova igreja, por iniciativa dos moradores, instimulados com a incapacidade, e estreitesa da igreja velha, vnidos, e deuotos se dispuserão a noua fabrica de sua matrix, a que deraõ principio com suas esmolas no anno de 1663 (1). Foi celebrada a primeira Missa no dia 15 de Agosto de 1668, estando o edifício da igreja ainda inacabado. As obras foram concluídas no final da década de 70, durante o bispado de Dom Frei Manuel da Natividade (1620 - 1685).

Em 1676, foi declarada sede da Diocese de Angola e Congo.

Em 1818 a matriz da Conceição – a Sé Velha - ameaçava ruina eminente, deixando de estar ao culto. A imagem da padroeira foi transferida para a igreja do Convento de S. José.

Em 1864 foi nomeada uma comissão destinada a instituir e organizar em Luanda uma biblioteca e museu, propondo-se a sua instalação no edifício da antiga igreja matriz de Nossa Senhora da Conceição. Em 1879, foram demolidas definitivamente as suas ruinas, apenas se conservando uma das torres sineiras.

Sobre as ruinas da antiga igreja, foi inaugurado em 1881, o Observatório Meteorológico João Capelo, e em 1907, integrado também neste espaço o Museu Colonial de Luanda e o Museu de Arte Sacra – depois Museu Provincial de Angola.

Elevado a monumento nacional em 1981, resiste a velha Torre da igreja matriz de Nossa Senhora da Conceição, a Sé Velha, valioso testemunho da secular história da cidade e da diocese.

O nome permanece na toponímia da parte Alta e na antiquíssima Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, a primeira da cidade de São Paulo de Luanda.

 

  1. BRASIO, António, Monumenta Missionária Africana, Lisboa, Agência Geral do Ultramar, Lisboa, 1982, Volume 13, p. 126.
  2. Idem, Volume 8, p. 336.
  3. Idem, Volume 6, p. 184.
  4. DIAS, Pedro, História da Arte Portuguesa no Mundo (1415-1822), O Espaço Atlântico. s.l., Lisboa, Círculo dos Leitores, 1999, p. 130.
  5. Arquivo Apostólico vaticano Congregazione Concilio, Relationes Dioecesium, vol. 50, fl. 12-14. https://www.uc.pt/fluc/religionAJE/fontes/docs/ANGOLA__1640_traduzida.pdf (consultado 15.07.2025)

 

REFERÊNCIAS

  • CARDONEGA, António de Oliveira, História Geral das Guerras Angolanas, Agência Geral do Ultramar, Lisboa, 1972.
  • GABRIEL, Manuel Nunes, Padrões da Fé: As Igrejas Antigas de Angola. Braga, Edição da Arquidiocese de Luanda, 1981.
  • DIAS, Pedro, História da Arte Portuguesa no Mundo (1415-1822), O Espaço Atlântico. s.l., Lisboa,  Círculo dos Leitores, 1999.
  • RODRIGO, António, Museu Colonial de Luanda, 1907-1910, Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Lisboa, 2017.

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