
Sé de Luanda, Angola
Nesta página:
I . História
II . Descrição
III . Os Jesuítas em Luanda
IV . O Santíssimo Nome de Jesus: culto e iconografia
V . A Arquidiocese de Luanda
I . HISTÓRIA
Em 1581, Paulo Dias de Novais (c. 1510-1589), primeiro Governador de Angola, doou aos jesuítas um terreno na então denominada Praça da Feira – actual Largo do Palácio -, lugar alto, sadio, lavado de ventos e muito bem assombrado (1), da vila de Luanda, recém-fundada, para a construção de uma igreja e respectivo colégio.
Em 1605/1607 deu-se início à construção dos edifícios, que foi demorada, principalmente devido à escassez de fundos. Logo em 1609, foram trasladadas as cinzas de Paulo Dias de Novais, vindas de Massangano, cumprindo o seu desejo de ser sepultado nesta igreja. Em 1620, as comemorações pela beatificação de Santo Inácio de Loyola e São Francisco Xavier foram realizadas ainda sem as obras estarem terminadas.
Os religiosos foram alargando a área de edificação, por meio de outras doações e mesmo pela compra de terrenos. Em 1619, Gaspar Álvares († 1623), rico mercador, fez um substancial donativo para impulso das obras da igreja e do Colégio, tendo posteriormente deixado em testamento uma quantia avultada destinada em particular à construção de um seminário.
A edificação da igreja dedicada ao Santíssimo Nome de Jesus – embora não se conheçam registos da invocação -, concluiu-se em 1636, referida como monumento muito grandioso (1), o templo mais impressionante de Luanda, pelas suas dimensões, estética e riqueza em mármores, pinturas e retábulos.
Foram instituídas várias congregações, segundo o costume inaciano: de Nossa Senhora do Socorro, de São Francisco Xavier, das Onze Mil Virgens – para estudantes -, e de Nossa Senhora do Rosário que reunia forros e escravos.
No anexo Colégio de Jesus, embora ainda não terminado, já se ministrava o ensino das primeiras letras.
Entre 1641 e 1648, a igreja e o colégio foram ocupados pelos holandeses, a igreja servindo de espaço de assembleias e ajuntamentos (1), e o colégio como residência do governador flamengo.
Com a libertação de Luanda por Salvador Correia de Sá (1602-1688), a 15 de Agosto de 1648, os jesuítas voltaram a tomar conta dos edifícios. Os festejos que se seguiram centraram-se na igreja dos jesuítas, atestando a sua importância no conjunto da cidade com grande parte dos templos arruinados durante o domínio flamengo.
Em 1659, ficaram concluídas as obras do Colégio do Santíssimo Nome de Jesus. A igreja continuou a ser embelezada, tendo sido encomendado, no início do século XVIII, os retábulos da capela-mor e das capelas colaterais.
Após a expulsão dos jesuítas em 1760, o templo foi abandonado, e parte das suas preciosas alfaias e paramentos trasladadas para a igreja de Nossa Senhora da Conceição – antiga Sé de Luanda - ou permanecendo à guarda dos religiosos capuchinhos, no vizinho convento de Santo António. Houve tentativa de transferência da Sé para a igreja dos jesuítas, mas devido ao estado de degradação em que se encontrava não foi possível.
Numa das zonas do antigo edifício do colégio, instalou-se a residência do Bispo de Luanda, utilizado como Paço Episcopal, estando a restante parte do edifício bastante arruinada
No final do século XVIII, a igreja e grande parte do colégio encontravam-se quase em ruínas, com a queda da cobertura da igreja em 1780. Esteve ao abandono, chegando a ser utilizada como cavalariça e depois como oficina de Obras Públicas.
Em 1853, foi criado por decreto o seminário-liceu de Luanda determinando que as aulas começassem no edifício do antigo convento jesuíta, na parte não habitada pelo Bispo. Há notícia também de uma escola de primeiras letras numa sala anexa. Em 1882, o seminário foi transferido para Huila, regressando em 1907, novamente para as dependências do antigo colégio jesuíta, onde funcionou até 1935.
Em meados do século XX, voltou o desejo de reabilitar a outrora admirável igreja de Jesus. Foi classificada em 1945 como Património Histórico-Cultural, e iniciado o processo de restauro - restava apenas a fachada principal e a capela-mor com o grandioso retábulo de embutidos em mármore.
As obras iniciaram-se em 1957/58, sob responsabilidade do arquitecto Martinho Humberto dos Reis (n. 1904), procurando recuperar a traça primitiva do templo. A campanha de obras incluiu: a construção da cobertura da igreja e do catavento para a torre da igreja, entretanto perdido; o restauro da fachada principal; no interior, o restauro da capela-mor, das capelas laterais e colaterais, e da sacristia.
A igreja foi reaberta ao culto em 22 de Dezembro de 1958, em cerimónia presidida pelo Arcebispo de Luanda, Dom Moisés Alves de Pinho (1883-1980).
Entre 1961 e 1974 foi sede da Capelania Militar de Angola para os serviços religiosos das Forças Armadas.
A igreja de Jesus, em 1975, foi elevada a sede da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição e, finalmente, a partir de 1978, Catedral da Arquidiocese de Luanda.
Em 20 de outubro de 1999, cumprindo o seu desejo, os restos mortais de Dom Moisés Alves de Pinho foram transladados para a nova Sé de Luanda, antiga igreja de Jesus. E, a 8 de Outubro de 2024, foi sepultado também em cerimónia solene, o Cardeal Dom Alexandre Nascimento (1925-2024), figura notável pelo trabalho incansável ao serviço da Igreja, nomeadamente durante o período de grande perturbação em Angola.
II . DESCRIÇÃO
A antiga igreja de Jesus está localizada na cidade alta de Luanda, no Largo do Palácio. O conjunto arquitectónico inclui a igreja e os edifícios do antigo Colégio jesuíta onde actualmente se encontra o Paço Arquiepiscopal.
Igreja muito antiga, é ainda hoje um dos mais imponentes templos da capital angolana.
Na admirável fachada principal, com registos verticais divididos por pares de colunas, destacam-se as inscrições JESUS, MARIA e JOSÉ – alusivas à invocação deste templo – e AD MAIOREM DEI GLORIAM – Para maior Glória de Deus -, lema da Companhia de Jesus e no remate, o monograma IHS – alusivo a Jesus Cristo.
Os portais têm moldura decorada e, sobre os portais laterais, destaca-se um espaldar semicircular também com motivos decorativos.
Do lado direito encontra-se a torre sineira com coruchéu piramidal e o catavento com a fama - Anjo com trombeta -, construídos no restauro dos meados do século XX (o catavento estaria perdido mas figurava em desenhos antigos).
O interior é muito amplo e iluminado pelas janelas da fachada principal e indirectamente pelas janelas das tribunas laterais.
A grande nave, restaurada na campanha de obras de 1957-1958, que procurou repor o projecto inicial, tem actualmente uma grande sobriedade de formas.
À entrada, encontra-se um amplo átrio, correspondente ao sub-coro, segundo o costume jesuíta de configuração do templo.
Destacam-se as seis capelas laterais, intercomunicantes, com acesso por arcos de volta perfeita, altar com banqueta em mármore – de traço semelhante ao altar-mor, nicho encrustado na parede e emoldurado, com imagens do respectivo orago.
Estão dedicadas do lado direito: a Santa Isabel de Portugal, Santo Inácio de Loyola – fundador da Companhia de Jesus -, e Santo António – santo de grande devoção em toda a igreja e em particular dos jesuítas portugueses; e do lado esquerdo, a São José, Sagrado Coração de Jesus e São Francisco Xavier.
O transepto está separado da nave por balaustrada de madeira. Ao centro encontra-se o altar coram populo, colocado após as reformas do Concílio Vaticano II. No braço lateral direito, encontra-se uma admirável imagem de Nossa Senhora com o Menino – possivelmente a que teria a antiga invocação de Nossa Senhora do Rosário.
No pavimento, sob o estrado do altar-mor, estará a lápide com brasão dos Novais e inscrição, colocada durante o restauro dos anos 50 (século XX), no local onde foram encontrados despojos mortais possivelmente de Paulo Dias de Novais, o fundador de Luanda.
O arco triunfal, em arco de volta perfeito, tem duas capelas colaterais com invocações marianas, do início do século XVIII, subsistentes da antiga igreja, com admiráveis retábulos em estuque policromo e marmoreado, colunas salomónicas e estrutura semelhante à do retábulo-mor.
A capela de Nossa Senhora da Conceição, invocação da Paróquia, tem na parede uma lápide com inscrição, referente a um Crucifixo histórico, entretanto desaparecido: ESTA IMAGEM DE Nº SR JESUS CRISTO CRUCIFICADO É A QUE SE VENEROU NA IGREJA DE Nº Sª DO ROSÁRIO DE CAMBAMBE E FOI AQUI COLOCADA EM 1958 AQUANDO DA RESTAURAÇÃO DESTA IGREJA.
A capela do lado direito está dedicada ao Imaculado Coração de Maria, Padroeira de Angola - Angola foi consagrada ao Imaculado Coração de Maria a 13 de Outubro de 1985. Encontra-se neste espaço o túmulo do eminente Cardeal Dom Alexandre do Nascimento com inscrição: Não escondi a tua justiça no fundo do coração (Salmo 40,11).
Na capela-mor, destaca-se o magnífico retábulo em pedraria policroma com embutidos em branco, vermelho e preto. Foi obra do Mestre José Pereira, segundo contrato celebrado em 6 de Janeiro de 1711 com o Padre Francisco da Fonseca, procurador do Colégio da Companhia de Jesus. Foi realizado numa oficina de Lisboa e posteriormente transportado para Luanda.
O retábulo tem planta côncava, com três eixos definidos por colunas torsas; o camarim central tem trono piramidal também em mármore de embutidos, onde preside a imagem de Jesus Cristo Salvador do Mundo. Nos nichos laterais, encontram-se as imagens de Nossa Senhora da Assunção e São Paulo Apóstolo, padroeiro da cidade de Luanda.
O admirável sacrário monumental, em forma de templete, encontra-se na base do retábulo. Todo o conjunto assenta sobre mármore, incluindo a mesa de altar.
É um retábulo de valor exceptional, um dos primeiros exemplares deste género enviados para fora da metrópole.
Na ampla sacristia, restaurada também na campanha de obras de 1957-58, destaca-se um lavabo do século XVIII.
III . OS JESUÍTAS EM LUANDA
Em meados do século XVI, o rei do Ndongo, conhecendo a acção dos religiosos no vizinho reino do Congo, pediu ao rei de Portugal missionários para as suas terras:
Para el reyno de Angola, (…), partieron este mes de Deziembre quatro Padres y [dos] hermanos Está este reyno de aquí mil y quinientas leguas, onde nunca hasta aora se ha predicado el euangelio. El mismo rey embió embaxadores al rey de Portugal, pidiéndole Padres que le fuessen enseñar el camino de su saluación (2).
Os primeiros jesuítas chegaram à barra do Cuanza em 3 de Maio de 1560, integrados na primeira embaixada ao Reino de Angola, capitaneada por Paulo Dias de Novais. O grupo de missionários era composto pelos Padres António Gouveia e Agostinho de Lacerda e os Irmãos António Mendes e Manuel Pinto.
Este início da actividade missionária na região de Luanda foi muito doloroso. Enquanto esperavam autorização para seguirem para o Ndongo, faleceu o Padre Agostinho Lacerda, sepultado nas areias da praia. Quando finalmente a embaixada chegou às terras de Ngola Ndambi († 1575), o rei reteve-os como cativos, durante seis anos. Paulo Dias de Novais teve permissão de voltar a Portugal, mas o Padre Francisco Gouveia permaneceu, acabando por falecer em meados de 1775, após prolongado cativeiro. Do grupo de quatro religiosos, apenas sobreviveu o irmão António Mendes.
Em Fevereiro de 1575 chegava à Ilha de Luanda, uma nova missão de jesuítas, integrados na segunda expedição de Paulo Dias de Novais. O grupo era constituído pelos Padres Garcia Simões e Baltasar Afonso, e os Irmãos Cosmo Gomez e Constantino Rodrigues.
Acomodaram-se primeiro em palhotas junto à ermida aí existente – depois igreja de Nossa Senhora do Cabo - assistindo à comunidade de portugueses que aí residia.
No ano seguinte (1576), estabeleceram a sua primeira residência no morro de São Paulo, onde tinha sido edificado um forte e construída a capela de São Sebastião, patrono onomástico do rei de Portugal – sendo fundada por Paulo Dias de Novais a Vila de São Paulo de Luanda. Nesse mesmo ano (1576), foi também fundada a Misericórdia de Luanda, com a assistência do Padre Garcia Simões.
A partir do morro de São Paulo, e com a chegada de mais religiosos, nomeadamente o Padre Baltasar Barreira em 1580, os jesuítas evangelizaram as populações de Luanda e arredores. Acompanharam também o Governador nas várias expedições ao interior, particularmente ao longo do rio Cuanza. Envolveram-se também no infeliz trato de escravos – o comércio escravo, desde há muito estabelecido nos grandes potentados africanos, foi explorado intensamente pelos sobas nativos e pelos mercadores angolanos, aproveitando as redes de comércio já estabelecidas.
Em 1605/1607, iniciou-se a construção da igreja e colégio de Jesus na parte Alta da cidade, a partir da qual continuaram a acompanhar as incursões no interior.
O colégio dos jesuítas em Luanda foi durante mais de um século o principal centro de ensino de Luanda e escola de formação de missionários.
O colégio foi construído junto à igreja, como era habitual, sendo destinado pelos superiores para a preparação de futuros sacerdotes da Companhia e para o ensino dos jovens que quisessem instruir-se nas matérias ali professadas. Em 1605, fez-se a abertura da escola das primeiras letras, primeira escola de Luanda e, possivelmente, de toda a África Subsaariana. Ali afluíram estudantes da cidade, do Congo e de outras terras angolanas já evangelizadas…Em 1622, começaram as aulas de Gramática e Teologia Moral, ainda não estando concluídas as obras, além do ensino profissional, ministrado na Cerca do colégio.
No século XVII, a Companhia de Jesus era o principal agente de formação eclesiástica, assistência social, ensino especializado e técnicos em Luanda e Congo. Estudaram as línguas africanas, publicaram catecismos, como instrumentos não só de evangelização como do ensino das primeiras letras. Tiveram um papel fundamental no início da escrita das línguas africanas – de tradição apenas oral.
Em 1641, o ensino foi interrompido quando da ocupação do colégio pelos holandeses que o transformaram em residência do governador, mas as aulas retomaram o seu concurso após a reconquista. Em 1684, foi proposta a fundação de um seminário com o patrocínio real, onde seriam recolhidos doze moços negros para serem ensinados e se tornarem sacerdotes.
As relações com o Brasil intensificaram-se e, na segunda metade do século XVII, o Colégio de Luanda enviava grande número de sacerdotes para os colégios jesuítas do Brasil.
Com a expulsão dos jesuítas em 1760, o ensino em Luanda entrou em decadência, não se conseguindo substituir de forma regular a formação teológica e o ensino técnico anteriormente ministrado pelos religiosos.
Os jesuítas regressaram a Angola nos finais do século XX, estando actualmente integrados na Província da África Central.
IV . O SANTÍSSIMO NOME DE JESUS: CULTO E ICONOGRAFIA
O nome de Jesus significa o Salvador, e relembra a Salvação que por Ele nos veio e o modo admirável pelo qual fomos salvos. O nome de Jesus foi-lhe dado por Maria e José, segundo a indicação que lhes viera de Deus. Foi predito pelos profetas que chamaram ao Messias Emanuel.
A devoção ao Santíssimo Nome de Jesus é muito antiga. Tem as suas raízes no período apostólico, quando sob a invocação do nome de Jesus os primeiros cristãos pediam a coragem que necessitavam para enfrentar as perseguições e os martírios, segundo a invocação paulina Ao nome de Jesus todo joelho se dobre, no céu, na terra e no inferno. Phil. II, 10.
Na Idade Média, a devoção desenvolveu-se com São Bernardo (c. 1140), e foi São Bernardino de Siena quem associou ao Santíssimo Nome o cristograma IHS.
Santo Inácio de Loyola, fundador dos jesuítas tinha um grande amor ao Nome de Jesus, o que o levou a dar à Ordem a designação de Companhia de Jesus, adoptando o monograma no selo do Superior da Companhia. São várias as igrejas e colégios fundados pelos jesuítas com esta invocação, como no caso da igreja e colégio em Luanda.
Em 1721, a veneração do Santíssimo Nome de Jesus foi alargada a toda a Igreja Católica Romana sendo atribuída a data de celebração no segundo domingo após a Epifania. A reforma do calendário litúrgico em 1969 aboliu esta festa, mas o Santo Padre São João Paulo II reestabeleceu a Festa do Santíssimo Nome de Jesus, celebrada actualmente a 3 de Janeiro.
A iconografia desta invocação inclui o monograma de Jesus Cristo – IHS abreviatura do nome em grego -, a Cruz e os Cravos – representados geralmente em número de três.
V . A DIOCESE DE LUANDA
A cristianização do actual território de Angola iniciou-se no século XVI, na região do Congo, sob a jurisdição da diocese do Funchal – a primeira diocese com territórios fora da Europa.
Em 1534 foi criada a diocese de São Tomé, na qual ficaram compreendidos os vastos territórios da costa ocidental de África. Em 1560, chegaram os primeiros missionários à foz do Cuanza, mas a evangelização expandiu-se principalmente a partir de 1575, com a fundação da vila de São Paulo de Luanda.
Em 1590, estavam já estabelecidas as primeiras paróquias na região: Nossa Senhora da Conceição em Luanda e Nossa Senhora da Vitória em Massangano.
Em 1596, foi criada a diocese de São Salvador do Congo pelo Papa Clemente VIII, com sede em Mbanza Congo, desmembrada da diocese de São Tomé. Abrangia os reinos do Congo e Ngola, incluindo a região de Luanda.
A partir de 1623, o bispo estabeleceu a sua residência em Luanda, e posteriormente, em 1676, foi transferida definitivamente a sede da designada Diocese de Angola e Congo, para esta cidade, durante o bispado de Dom Frei Manuel da Natividade (1620-1685), com sede na igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição.
Em 1677, a diocese passou a ser sufragânea da arquidiocese da Baía, entretanto criada e que tantas conexões tinha com Angola. Eram já numerosas as igrejas e conventos em Luanda e disseminados por toda a região e nos diferentes presídios do interior, constantes nas duas relações (1690 e 1693) enviadas pelo Governador D. João de Lencastre.
Na sequência da expulsão dos jesuítas em 1760, houve a tentativa de instalar a sede da diocese na igreja de Jesus, não sendo possível por esta se encontrar bastante degradada.
Entre 1760 e 1778 a diocese passou por um período de grandes dificuldades no relacionamento entre os missionários e o poder político de Lisboa / Luanda. A sede da Diocese passou sequencialmente por várias igrejas de Luanda, tendo em conta que a igreja de Nossa Senhora da Conceição se encontrava muito arruinada.
No final do século XVIII a situação missionária continuou a degradar-se, com o declínio das ordens religiosas, particularmente a partir do decreto de extinção das ordens religiosas em 1834, e a mentalidade anti-religiosa predominante.
A evangelização foi retomada no princípio do século XX, através da admirável acção dos seus bispos, do trabalho persistente das novas missões entretanto criadas, da firmeza na formação do clero…
A 4 de Setembro de 1940 foi elevada a Arquidiocese de Luanda tendo como contitular São Salvador, em memória da primitiva Sé do Congo. Foram criadas duas novas dioceses – de Nova Lisboa e de Silva Porto (actualmente de Huambo e do Kwito-Bié). Foi fixada oficialmente a Sé da Arquidiocese de Luanda na Igreja de Nossa Senhora dos Remédios.
Em 1978, a sede passou finalmente para a antiga igreja jesuíta, entretanto restaurada.
A diocese recebeu a visita do Santo Padre João Paulo II em 1992, num contexto difícil de conflito armado, e do Papa Bento XVI em 2009.
Actualmente é uma arquidiocese em expansão: a igreja desenvolveu-se apesar das guerras e conflitos internos, obra corajosa do trabalho missionário e dos inúmeros catequistas...
Terra ardente e atravessada pela dor ao longo dos vários séculos de evangelização, Angola conseguiu, com intuição admirável, ultrapassar as grandes dificuldades e abraçar com coração íntegro e magnânimo a força espiritual contida na mensagem cristã.
- GABRIEL, Manuel Nunes, Padrões da Fé. As Igrejas antigas de Angola. Braga: Arquidiocese de Luanda, 1981, p. 56-58.
- BRASIO, António, Monumenta Missionária Africana, Lisboa, Agência Geral do Ultramar, 1953, Volume 2, p.449.
REFERÊNCIAS
- GABRIEL, Manuel Nunes, Padrões da Fé: As Igrejas Antigas de Angola. Braga, Edição da Arquidiocese de Luanda, 1981.
- SANTOS, Martins dos, Cultura, Educação e Ensino em Angola, Ed. Electrónica, Braga, 1998.
- DIAS, Pedro, História da Arte Portuguesa no Mundo (1415-1822), O Espaço Atlântico. s.l., Lisboa, Círculo dos Leitores, 1999.
- FERRAZ, Susana, Espaço Público de Luanda, Património arquitectónico colonial angolano e português, Dissertação de mestrado, Porto FAUP, 2005.
- MATTOSO, José (Dir.), Património de Origem Portuguesa no Mundo, arquitectura e urbanismo: África, Mar Vermelho e Golfo Pérsico. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2010.
- COUTINHO, Maria João Pereira, Ars marmoris : os mármores policromos do retábulo-mor da igreja do colégio da Companhia de Jesus de Luanda, As Artes Decorativas e a Expansão Portuguesa, Lisboa, 2010.
- MARIZ, Vera Félix, A “memória do império” ou o “império da memória” a salvaguarda do património arquitectónico português ultramarino (1930-1974), Dissertação de Doutoramento, Lisboa, Universidade de Lisboa, 2016.
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